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Médico Veterinário (UFRRJ-1964). MS em Microbiologia (UFRRJ, 1971) e PhD em Sanidade Animal (UFRRJ, 1997). Produziu cerca de 150 trabalhos científicos: os primeiros relatos sobre Cryptococose felina; primeiros isolamentos do Pithyum insidiosum de equinos; Nefropatia micotóxica suína, Aflatoxicose em suínos; anticorpos monoclonais anti aflatoxina e citrinina e estudos experimentais sobre citrinina em suínos. Prêmio de Pesquisa Avícola “Prof. José Maria Lamas da Silva” “Comenda do Mérito Veterinário” Instituto de Veterinária da UFRRJ; Honra ao Mérito Veterinário CRMV-RJ e Professor Emérito da UFRRJ. Presidente da Sociedade Latinoamericana de Micotoxicologia, Presidiu o I Congresso Latinoamericano de Micotoxicologia, RJ. Implantou o Centro de Micologia e Micotoxicologia e o Curso de Mestrado em Microbiologia Veterinária da UFRRJ. Autor dos livros: “Micotoxicologia: perspectiva Latino-americana” e “Micologia Veterinária” Na UFRRJ foi Professor Titular de Micologia e Micotoxicologia. Atualmente é Professor Titular da Universidade Estácio de Sá, responsável pela disciplina de Micologia Veterinária.

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sábado, 25 de fevereiro de 2012


MICOLOGIA. 2 


 DERMATOFITOSES
Fungos patogênicos isolados de raspados de pele de cães com lesões cutâneas e considerações sobre coleta, acondicionamento e envio de material para exames laboratoriais..
Luiz Celso Hygino da Cruz*
José Luis de Carvalho*
Diana Cunha da Cruz de Carvalho*
Alexandre Cunha Espindola*
________________________________
* LABOVET


INTRODUÇÃO - Das doenças fúngicas diagnosticadas em animais domésticos, as dermatofitoses são as mais frequentes, mas apesar de serem comuns, o seu diagnóstico não é muito fácil e por causa disso, erros são cometidos com muita frequência. Apesar das lesões apresentarem um certo padrão que as descrevem como sendo circulares e com desenvolvimento centrífugo, elas apresentam diversos tipos evolutivos, variações estas, que são dependentes do grau de virulência da cepa, do estado imunológico do hospedeiro, do grau de adaptabilidade da espécie fúngica à espécie animal etc. O diagnóstico das dermatofitoses é totalmente dependente do apoio laboratorial e, por causa disto, é muito importante que o clínico faça a coleta de material de maneira correta e encaminhe ao laboratório de forma adequada. O sucesso do diagnóstico laboratorial depende da qualidade dos procedimentos adotados.

MATERIAIS E MÉTODOS
Material - Os animais, cães de diversas raças e idades, de ambos os sexos, domiciliados em diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro, não foram examinados diretamente pelos autores. Foram animais atendidos em diversas clínicas localizadas nos mais diversos bairros da cidade, os clínicos assistentes consideraram estes animais como portadores de alterações patológicas que justificavam a solicitação de análises micológicas com vistas à caracterização do agente etiológico. Para isto, raspados de lesões foram coletados de 1185 animais, no período de 26/07/2002 a 30/11/2005 e enviados ao nosso laboratório de análises clínicas (Labovet). Na maioria das vezes, o material era acondicionado em papel (receituário, envelope, toalha ou higiênico) mas em diversos casos, o seu encaminhamento foi feito de outras formas como por exemplo, entre duas lâminas envolvidas por esparadrapo ou mesmo por fita adesiva crepe, em tubo de ensaio fechado com rolha de borracha ou em frascos para urina ou fezes. Estes materiais apresentavam os mais diversos aspectos: na maioria das vezes era constituído de somente pelos (curtos ou muito longos, muito poucos ou em grandes quantidades), pelos com células descamativas, pelos com crostas, somente crostas ou crostas com sangue. A forma de coleta também variava bastante: muitas vezes foram feitos raspados superficiais com uma lâmina, outras vezes, os pelos eram arrancados juntamente com as crostas e, em poucos casos, foram utilizados, até mesmo, cotonetes. 
Em todos os casos em que havia suspeita de esporotricose, o material foi coletado por meio de swabs estéreis passados na superfície das lesões e enviados em meio de transporte.

Isolamento e identificação 
Preparo do material - Em duas situações havia necessidade de fazer uma preparação especial do material antes de se fazer o cultivo em meio seletivo: quando o material era constituído de crostas ou quando os pelos eram muito longos. As crostas eram trituradas em gral ou mesmo sobre o papel em que era acondicionado e os pelos longos eram cortados com tesoura, utilizando-se para a semeadura a parte que continha o seu bulbo.
Cultivo: Todos os cultivos foram feitos em agar Mycosel que possui em sua formulação, cloranfenicol e cicloheximida como agentes seletivos. O material constituído de pelos, células descamativas ou crostas trituradas, era colocado, com o auxílio de uma pinça, na superfície do meio de cultura inclinado, em tubo de ensaio e depois, com uma alça de platina, este material era espalhado por toda a superfície do meio. A incubação era feita em temperatura ambiente por até 30 dias.
Microscopia – A caracterização microscópica de todas as culturas isoladas foi feita mediante preparações entre lâmina e lamínula, coradas pelo azul de algodão lático.

Identificação dos fungos isolados 
Microsporum e Trichophyton: a identificação destes dermatófitos foi baseada nas características de suas colônias (formato, consistência, pigmentação da superfície e do reverso etc) e nos aspectos microscópicos, principalmente em suas estruturas reprodutivas (macroconídeos e microconídeos). 
Malassezia: a principal exigência nutricional das espécies do gênero Malassezia está relacionada à dependência de ácidos graxos, M. pachydermatis que é lipofílica, mas não lipodependente, pode ser cultivada nos meios de uso comum em micologia, como o meio de Sabouraud, acrescido de antibióticos como o cloranfenicol, enquanto as outras espécies são incapazes de crescerem neste meio, se não houver suplementação de lipídeos. No meio de Sabouraud, M. pachydermatis apresenta colônias redondas, convexas, foscas, de cor creme-amarelada e textura friável; o crescimento ótimo se dá à temperatura de 37° C em 48 a 72 horas. Podem ainda ser observadas colônias com dois diferentes fenótipos no que diz respeito ao diâmetro (grandes ou pequenas), ambas contendo células com as mesmas características microscópicas.
Candida: para a identificação deste gênero, além das características macroscópicas e microscópicas de seu crescimento em meio de Sabouraud glicosado, foram analisados os seguintes aspectos: formação de colônia radiada em EMB agar com incubação em 10% de CO2, produção de clamidoconídeos em agar farinha de milho e formação de tubos germinativos em soro sanguíneo após incubação por 2 horas a 37o C.
Sporothrix schenckii: a identificação desta espécie foi baseada principalmente em seu dimorfismo. À temperatura corporal ou quando seus cultivos são incubados a 37o C, apresenta-se como um fungo leveduriforme de forma alongada, (muitas células têm o formato de uma gota), envolvido por um halo claro, leveduras também podem ser encontradas fagocitadas por macrófagos. Nos cultivos incubados a 25o C ocorre formação de colônias, inicialmente de cor clara que, gradativamente vão se tornando pigmentadas até se tornarem quase negras. À microscopia observam-se hifas finas, septadas e pequenos conídeos produzidos nas extremidades de diminutas fiálides ligadas à conidióforos ou diretamente às hifas.
Scopulariopsis: suas colônias são pulverulentas devido ao grande número de conídeos. As hifas são septadas e os conidióforos podem ser formados isoladamente ou em ramificações em cujas extremidades se formam cadeias de conídeos globosos e eqüinulados.
Geotrichum: suas colônias são achatadas, brancas com sua superfície apresentando uma textura como cera ou apresentando filamentos aéreos. Multiplica-se por fragmentação da hifa, formando artrosporos.
Rhodotorula: este é um fungo leveduriforme que se destaca  por formar colônias de consistência cremosa com pigmentação de cor laranja. Produz pequenas células que se multiplicam por brotamento, não forma hifas e nem pseudo-hifas.



RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fungos patogênicos foram detectados em 31,65 % (375 amostras) de um total de 1185 raspados de pele enviados para análise em nosso laboratório de análises clínicas (Labovet), no período de 26/07/2002 a 30/11/2005 (Quadro 1). Deste total, 280 eram dermatófitos (Microsporum ou Trichophyton) ou 23,63% de todos os fungos patogênicos isolados, destacando-se o Microsporum canis (21,77%) como o mais freqüente, seguido do Microsporum gypseum (0,93%) e do Trichophyton mentagrophytes (0,84%). 

Quadro 1 – Fungos isolados a partir de 1185 raspados de pele
                        coletados de cães com suspeita de dermatofitoses.
Fungo isolado
No de isolados
%
Microsporum canis
258
21,77
Microsporum gypseum
11
0,93
Trichophyton mentagrophytes
10
0,84
Malassezia pachydermatis
68
5,74
M. canis + M. pachydermatis
1

Sporothrix schenckii
18
1,52
Candida albicans
5
0,42
Scopulariopsis sp
2

Rhodotorula sp
1

Geotrichum sp
1

Total de positivos 
375
31,65
Total de negativos
810
68,35

Estes resultados evidenciam a pouca diversidade de espécies de fungos dermatófitos pertencentes aos gêneros Microsporum e Trichophyton, parasitando os cães na cidade do Rio de Janeiro. De um total de 280 cepas de dermatófitos isoladas, foram identificadas apenas três espécies, M. canis e M. gypseum, o primeiro zoofílico e o segundo geofílico e T. mentagrophytes, com predominância do M. canis (259 cepas) sobre todas as outras espécies patogênicas isoladas da pele de cães. Deve-se também ressaltar o elevado número de isolados de M. pachydermatis (68 ou 5,74%), inferior apenas ao M. canis. Neste caso, é necessário considerar que, por ser um comensal na pele, sua presença em cultivos a partir de raspados de pele, deve ser analisada com muito critério. Em todos os casos em que assinalamos a sua presença, havia um grande número de colônias, indicando um provável envolvimento com o processo patológico em análise. Entretanto, se para os casos de otites micóticas foram criados parâmetros numéricos que definem a correlação deste fungo com o quadro patológico, no caso das dermatoses, isto ainda não foi estabelecido, o que transfere ao clínico a responsabilidade pelo diagnóstico.  
Como pode ser verificado no quadro 1, também registramos a  ocorrência de Candida albicans (5 cepas),  Scopulariopsis sp (2 cepas), Rhodotorula sp (1 cepa),  e Geotrichum sp (1 cepa). Eventualmente, estes microorganismos podem ser associados a processos patológicos localizados na pele. 
Como se sabe, Candida albicans é considerada como um microorganismo normal da microbiota das mucosas bucal e vaginal e, eventualmente também pode ser encontrada na pele sadia. Por outro lado, este fungo tem sido implicado como agente etiológico de dermatopatias  no homem e em animais domésticos.
Dermatopatias de ocorrência eventual, também têm sido associadas ao  Scopulariopsis sp. Como é um fungo também encontrado com certa freqüência no meio ambiente, a sua presença em cultivos de raspados de pele deve ser analisada com cuidado porque ele pode estar presente como um simples contaminante, adquirido através do contato com o meio ambiente..
Foram relacionados no quadro 1, somente os fungos que normalmente são considerados responsáveis por processos patológicos em animais domésticos, não tendo sido considerados os demais fungos que se desenvolveram nos tubos de cultivo, apesar do meio conter o antibiótico cicloheximida, mas que são considerados fungos saprófitas. O desenvolvimento destes fungos nestes meios, algumas vezes foi tão intenso que ele poderia ter impedido o desenvolvimento de um fungo patogênico se estivesse presente, resultando desta maneira, em laudos falsos negativos.
Os resultados mostrados acima indicam uma aparente alta incidência de infecções fúngicas tegumentares em cães na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, se considerarmos que a coleta de material para exame micológico, teria sido motivada por uma suspeita clínica de dermatomicoses, seria lícito concluir que teria havido um baixo  percentual de acertos nos diagnósticos clínicos realizados, e um alto  índice de erros, superior em mais de duas vezes (cerca de 68%) ao de acertos (cerca de 31%). 
Olhando por este ângulo, poder-se-ia considerar que poucos veterinários deteriam conhecimentos aprofundados sobre dermatologia e, por isso, muitos enviariam aos laboratórios, raspados de pele de qualquer caso, independentemente de suas características clínicas, na tentativa de esclarecer problemas dermatológicos, sem uma adequada fundamentação teórico-prática. Esta situação deve ser melhor avaliada e seus pontos críticos devidamente identificados para que medidas corretivas possam ser indicadas e, desta maneira, esta grande margem de erros possa ser diminuída. 
Parece claro que um processo de educação continuada deva ser a base desse processo. Palestras, cursos teóricos e práticos, programas de estágios supervisionados para estudantes, seminários e outras formas de treinamento precisam ser disponibilizados pelas entidades de ensino e as associações profissionais como a Anclivepa, por exemplo.
Um outro problema nos parece ser a forma de coleta e acondicionamento do material enviado para ser analisado nos laboratórios. Por mais avançada e sofisticada que seja a técnica de diagnóstico laboratorial, a qualidade de seus resultados será sempre dependente da qualidade e da forma como o material foi coletado, acondicionado e enviado. Em se tratando de material destinado ao diagnóstico de dermatofitoses, algumas observações precisam ser feitas para que sejam minimizados os problemas que podem contribuir para que o diagnóstico seja otimizado.
Limpeza prévia - Por existir uma grande quantidade de microorganismos na pele dos animais, deve-se fazer uma limpeza prévia com gaze embebida em álcool a 70. 
Local de coleta - O material a ser enviado ao laboratório deve ser obtido das bordas da lesão (área em expansão da lesão), local em que os fungos estão metabolicamente ativos. 
Raspados superficiais - Não é necessário fazer uma raspagem profunda porque o fungo encontra-se no extrato córneo e nos pelos. Além disso, a raspagem profunda deixará o material úmido propiciando, com isso, o desenvolvimento de bactérias e fungos saprófitas, tornando muito difícil o diagnóstico. 
Coleta de pelos - Utilizando-se de uma pinça, deve-se arrancar os pelos que se mostrarem fluorescentes à luz de Wood, ou que forem quebradiços, defeituosos ou se encontrarem junto a processos inflamatórios, além de também recolher material descamativo ou crostasArrancar os pelos é importante porque o dermatófito ao se expandir pela superfície da pele, encontrará em seu caminho o folículo piloso, então ele descerá por sua parede e invadirá o pelo a partir de sua base, ou seja, o bulbo que se encontra inserido no folículo. A partir dali, o fungo vai se desenvolver para cima, não chegando a atingir o seu ápice porque o pelo cairá antes. Por este motivo, sugerimos que os animais que têm pelos longos, antes de serem retirados com o auxílio de pinça, devem ter sua altura reduzida com tesoura, a aproximadamente 1 cm. Com este procedimento, poderemos colocar um maior número de pelos na superfície do meio de cultura, aumentando a probabilidade de obtenção de cultivos positivos. 
Acondicionamento - De preferência, o material obtido deve ser embrulhado em papel limpo. Este procedimento eliminará a umidade, evitando, desta maneira, o crescimento dos contaminantes durante o transporte. Nestas condições, o material poderá, inclusive, ser enviado pelo correio. Nunca acondicionar o material entre duas lâminas de vidro ou em tubo de ensaio, especialmente se for fechado com rolha de borracha; muitas vezes o raspado é colocado entre duas lâminas e depois envolvidas por esparadrapo ou uma fita adesiva. Este procedimento é inadequado porque, além de reter umidade facilitando o crescimento de microorganismos contaminantes, a retirada do envoltório para o processamento do material trará riscos de contaminação para o técnico. Por motivos semelhantes, não se deve enviar raspados de pele dentro de tubos de ensaio fechados com rolhas de borracha.
Como se sabe, as dermatofitoses são zoonoses frequentes tanto na área urbana como na rural e, por isso, aos profissionais da área, deve ser exigido um comportamento consciente e participativo, não somente na prevenção das dermatofitoses em si mesmo e em sua equipe, como também na prevenção da disseminação da infecção na  comunidade que, de alguma maneira, tem relações com o animal portador da dermatofitose. É fundamental que o clínico veterinário esclareça a seus clientes, que o seu animal, portador dermatofitose, seja isolado e tratado com o devido cuidado, para evitar a transmissão da infecção para os membros da família. A permanência do animal junto à família, e o seu contato com o ambiente da casa (móveis e objetos) que também são utilizados pelos membros da família, aumenta a possibilidade de contaminação das pessoas. Não pode ser esquecido também, que nestes casos ocorre intensa queda de pelos (pela ação da queratinase produzida pelo dermatófito), muitos deles, infectados pelo fungo e, assim, sua presença no meio ambiente, pode significar maior probabilidade de contágio das pessoas residentes e o isolamento do animal infectado é um procedimento que não pode ser esquecido pelo veterinário assistente.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


Micologia. 1
PSEUDOMICETOMA DERMATOFÍTICO

Isolamento de Microsporum distortum e Microsporum canis de pseudomicetomas dermatofíticos em cão e gato. 

Luiz Celso Hygino da Cruz1
José Luis de Carvalho2
Diana Cunha da Cruz de Carvalho3
Alexandre Cunha Espindola3
___________________________
1. PhD; Prof. Titular aposentado UFRRJ; Prof. Adjunto Univ. Estácio de Sá; LABOVET 
2. MS; Prof. Auxiliar Univ. Estácio de Sá; LABOVET.
3. MS; LABOVET - Labovet – Rua Aricurí, 1196 – Campo Grande – Rio de Janeiro.    Hyginodacruz@gmail.com

Resumo
Microsporum distortum e Microsporum canis foram isolados, respectivamente, de um cão e de um gato que apresentavam lesões nodulares subcutâneas. Histologicamente, estes nódulos foram caracterizadas como pseudomicetoma dermatofítico por apresentarem lesões multifocais de desenvolvimento fúngico, caracterizando a formação de microcolônias constituídas unicamente por hifas septadas, de diâmetro irregular, cortadas no sentido longitudinal ou transversal e reativas positivamente ao PAS e pela associação etiológica com dermatófitos. Não foi encontrada nenhuma referência na literatura consultada sobre a associação desta patologia com o Microsporum distortum e discute-se também a validade desta espécie.
Abstract
Microsporum distortum and Microsporum canis were isotaded, respectivelly, from a dog and a cat, with subcutaneous nodules.  Histologically, this nodules were a typical pseudomycetoma dermatophytic by its multiphocal fungical lesions charactherized by microcolonies formations, constituted only by septated hiphal with irregular diameter, longitudinal and transversally segmented and were reatives  to PAS. No reference about M. distortum associated with a pseudomycetoma dermatophytic were observed and a discussion  about that specie is .

Introdução
Os dermatófitos constituem um grupo de fungos capazes de utilizarem a queratina como nutrientes e, por isto, são encontrados parasitando os tecidos queratinizados do homem e dos animais (extrato córneo da pele, pelo, e unhas). Algumas espécies vivem saprofiticamente no solo, nutrindo-se da queratina ali existente e, eventualmente, podem infectar os animais. A queratina é uma escleroproteína altamente polimerizada, constituída de cadeias polipeptídicas unidas por ligações S-S as quais mantêm a forma tridimensional da molécula. A maior resistência de certas estruturas queratinizadas, os anexos da pele  como os cascos, chifres e as carapaças de tartarugas, tem sido atribuída à presença de um maior número dessas ligações em suas moléculas de queratina, o que também pode explicar 
a maior resistência que elas demonstram ter à ação de fungos queratinolíticos, os dermatófitos. A alta resistência das queratinas à maioria dos microrganismos está correlacionada com a presença dessas ligações. Os dermatófitos, ao produzirem queratinases, que são capazes de romperem as ligações S-S, decompõem a queratina, resultando em compostos que possuem o grupamento -SH. Esta capacidade de produzir                                                                      
queratinases explica o fato dos dermatófitos infectarem somente os tecidos superficiais ricos em queratinas, não tendo poder invasor. Ao contato com a pele, o dermatófito fixa-se no extrato córneo e inicia o seu crescimento que evoluirá de maneira centrífuga. A partir do 
ponto de infecção inicial, o fungo crescerá em todos os sentidos, buscando novas fontes de queratina. Como ele não tem poder invasor, seu crescimento normalmente, fica limitado às áreas queratinizadas da pele. A reação inflamatória que se segue às infecções por dermatófitos podem ser explicadas por uma produção de metabólitos tóxicos pelo fungo. Estas substâncias produzem uma irritação na pele, sobrevindo, conseqüentemente, uma reação defensiva do organismo animal. Quando isto ocorre, o fungo se afasta da região inflamada, pois ele não é capaz de sobreviver em um ambiente com inflamação e infecção bacteriana secundária. Por causa disto, provavelmente como uma forma de garantir a sua sobrevivência, através de um longo processo evolutivo, alguns dermatófitos suprimiram sua capacidade de produzir substâncias irritantes para determinados hospedeiros garantindo, desta maneira, sua permanência junto a uma determinada espécie animal. Não sendo produzidas substâncias irritantes, não haverá reação inflamatória e, em conseqüência, o fungo permanecerá indefinidamente na pele desta espécie animal. Isto aconteceu com o Microsporum canis com relação ao cão e, quando esta espécie parasita outros animais ocorre, em geral, o desenvolvimento de uma reação inflamatória mais pronunciada. Esta adaptação pode estar relacionada com as diferenças entre a constituição química das diversas queratinas que, de acordo com a espécie animal, pode ter variação no conteúdo de cistina, ácido nicotínico, triptofano, arginina etc.
Nos felinos, a infecção localiza-se preferencialmente nas extremidades e na cabeça. Em geral é inaparente, sem reação inflamatória e apresentando somente uma suave  descamação com áreas depiladas  ou com pelos que se desprendem com facilidade. Nas formas com ligeira resposta inflamatória ocorre formação de crostas.
Nos caninos, as lesões, em geral, são mais marcantes, mas variam de acordo com o estado imunológico do animal ou de acordo com o gráu de patogenicidade da cepa fúngica. As lesões podem ser discretas, apresentando apenas queda de pelos e descamação ou podem ser acompanhadas de uma resposta inflamatória um pouco mais intensa, tendo os bordos ligeiramente mais elevados e hiperemiados. Em casos extremos, quando o animal encontra-se imunossuprimido, a reação inflamatória pode ser grave podendo, inclusive, ocorrer complicações por infecções bacterianas secundárias.
Pseudomicetoma dermatofítico - Raramente, os dermatófitos produzem lesões em tecidos profundos não queratinizados, que são denominadas de pseudomicetomas dermatofíticos. A presença de um dermatófito em tecidos subcutâneos provoca uma reação purulenta aguda com formação de abcessos ou produzindo uma reação granulomatosa, usualmente do tipo nodular. São poucas as referências na literatura especializada sobre a ocorrência desta patologia (Abramo, Vercelli & Macianti, 2001; Bergman et al., 2002; Black et al., 2001; Bond, Pocknell, Tozet, 2001; Chen et al., 1993; Miller Jr. & Goldschmidt, 1986; Moraes et al., 2001; Tuttle & Chandler, 1983; Yager et al., 1986; Zimmerman et al., 2003; Giufrida & Tostes, 2003). 


Material e Métodos
Fragmentos de lesões nodulares retiradas cirurgicamente da região subcutânea de um cão e de um gato, foram encaminhados ao Laboratório de Microbiologia do LABOVET, por duas clínicas veterinárias localizadas na cidade do Rio de Janeiro para diagnóstico micológico. Cada um destes dois materiais foi dividido em duas partes: uma delas foi colocada em formol a 10% para fixação e posterior histopatologia, utilizando a coloração de PAS e a outra parte foi imediatamente processada, com sua fragmentação em pequenos pedaços que foram cultivados em Agar de Sabouraud glicosado, adicionado de cloranfenicol e em Agar Mycobiotic, objetivando o cultivo para isolamento e identificação do agente etiológico. 

Resultados e Discussão 
Histopatologia - À histopatologia, foram observados numerosos focos de desenvolvimento fúngico, caracterizando a formação de microcolônias constituídas unicamente por estruturas vegetativas filamentosas (hifas) septadas, de diâmetro irregular, cortadas no sentido longitudinal ou transversal e reativas positivamente ao PAS (Fig. 1).
Fig. 1. Histopatologia de pseudomicetoma dermatofítico evidenciando microcolônias reativas ao PAS, constituídas de hifas septadas de diâmetros irregulares, segmentadas em diversos sentidos.


Observou-se infiltração inflamatória constituída principalmente por células mononucleares e macrófagos, além de discreta presença de eosinófilos e plamócitos. Os pseudomicetomas dermatofíticos podem ser distinguidos de micetomas fúngicos ou micetomas eumicóticos por apresentarem lesões multifocais e pela associação etiológica com dermatófitos.
Micologia – Através dos cultivos em Agar Mycobiotic e em Agar de Sabouraud com cloranfenicol, foram isolados Microsporum canis do gato (Fig. 2) e Microsporum distortum do cão (Fig. 3). 
   
                      Fig. 2 – Colônia e macroconídeo de Microsporum canis

    
               Fig. 3 – Colônias e macroconídeos de Microsporum distortum

Os principais agentes etiológicos das dermatofitoses em cães são Microsporum canis, M. gypseum e Trichophyton mentagrophytes e em gatos, o M. canis. A contrário, o Microsporum distortum poucas vezes tem sido correlacionado com dermatites micóticas em animais domésticos (Chatterje et al, 1980; Kaplan, et al, 1957; Kaplan, et al, 1957a). Microsporum distortum é uma designação taxonômica controversa, recebendo de alguns, o status de espécie e sendo considerado por outros, tão somente, como uma variante da espécie Microsporum canis e sendo denominada, neste caso, como M. canis var. distortum. Quando se analisa de forma comparativa estas duas entidades taxonômicas, encontramos divergência apenas no formato dos macroconídeos que, em M. distortum não segue um padrão uniforme, ocorrendo uma grande variedade de formas em uma mesma cultura (Fig. 3), ao contrário do M. canis, cujos macroconídeos apresentam um 
único formato, bem uniforme e caraterístico (Fig. 2). Em nossa opinião, pequenas diferenças morfológicas não deveriam justificar subdivisões de espécies e o sistema taxonômico deveria ser simplificado ao máximo possível, com redução, dentro de limites justificáveis do número de gêneros e espécies atualmente reconhecidas.
O que provocaria a migração de um fungo queratinofílico da superfície da pele que é rica em queratina, seu nutriente natural e abundante, para tecidos mais profundos aonde não existe disponibilidade desta forma de nutriente, que é a razão principal para eles se colonizarem na superfície da pele? Provavelmente não deve existir uma explicação suficientemente lógica e convincente que justifique este desvio patológico/nutricional, mas o desenvolvimento errático de um dermatófito em tecidos não queratinizados, resultando em pseudomicetomas, pode ter várias explicações:
a) Teoria defendida por Ajello et al. (1980) e Chen et al. (1993), considera que, ao se desenvolver de forma centrífuga na pele, o dermatófito encontrará o folículo piloso e, ao invadi-lo, poderá encontrar uma área de fragilidade em seu epitélio de revestimento, penetrando nos tecidos adjacentes. A presença de hifas no tecido subcutâneo provocará uma reação inflamatória que resultará na formação de um granuloma. ;
b) De acordo com Caretta et al. (1989), parasitas como as pulgas e carrapatos, que podem carrear o fungo na superfície de seu corpo, ao picarem a pele do animal, inoculariam o dermatófito em áreas teciduais abaixo do extrato córneo. Fora de um contato direto com 
    a queratina, o fungo passaria a se desenvolver de forma aleatória, podendo atingir os tecidos mais profundos;
c) Ácidos graxos produzidos pelas glândulas sebáceas, que exercem um importante papel na proteção da pele contra a invasão por microorganismos do ambiente externo, podem ter suas propriedades fungicidas ou fungistáticas alteradas por microorganismos lipofílicos. Nestas condições, os dermatófitos ficam livres para penetrarem nos tecidos subcutâneos (Moriello & DeBoer, 1991);
d) Lesões traumáticas cutâneas (Tuttle & Chandler, 1983) ou imunossupressão medicamentosa ou infecciosa (Yager et al., 1986), poderiam facilitar a penetração do dermatófito nos tecidos subcutâneos.


Referências
Abramo, F., Vercelli, A. & Macianti, F. Two cases of dermatophytic pseudomycetoma in the dog: an immunohistochemical study. Vet. Dermatol., 12 (4): 203-207, 2001.
Ajello, A., Kaplan, W. & Chandler, F. W. Dermatophyte mycetoma: fact or fiction? Proceedings of 5th International Conference on Mycoses Pan Am. Health Org. Sci. Pub., 396: 135-140, 1980.
Bergman, R. L., Medleau, L., Hnilica, K., Howerth, E. Dermatophyte granulomas caused by Trichophyton mentagrophytes in a dog. Vet. Dermatol., 13(1):49-52, 2002.
Black, S. S, Abernethy, T. E, Tyler, J. W., Thomas, M. W., Garma-Avina, A., Jensen, H. E.. Intra-abdominal dermatophytic pseudomycetoma in a Persian cat. J. Vet. Intern. Med., 15(3): 245-248, 2001.
Bond, R., Pocknell, A. M., Tozet, C. E. Pseudomycetoma caused by Microsporum canis in a Persian cat: lack of response to oral terbinafine. J. Small Anim. Pract., 42(11):557-60, 2001.
Caretta, G., Mancianti, F. & Ajello, L. Dermatophytes and keratinophilic fungi in cats and dogs. Mycoses, 32 (8): 620-626, 1989.
Chatterje, A. et al. Isolation of Microsporum distortum from ringworm lesions in a dog. Indian J. Anim. Health, 19: 159, 1980.
Chen, A. W. J., Kuo, J. W., Chen, J. S., Sun, C. C., Huang, S. F. Dermatophyte pseudomycetoma: a case report. Br. J. Dermatol., 129 (6): 729-732, 1993.
Kaplan, W., Georg, L. K., Hendricks, S. L. & Leeper, R. A. Isolation of Microsporum distortum from animals in the United States. J. Invest. Derm., 28: 449-453, 1957.
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