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Médico Veterinário (UFRRJ-1964). MS em Microbiologia (UFRRJ, 1971) e PhD em Sanidade Animal (UFRRJ, 1997). Produziu cerca de 150 trabalhos científicos: os primeiros relatos sobre Cryptococose felina; primeiros isolamentos do Pithyum insidiosum de equinos; Nefropatia micotóxica suína, Aflatoxicose em suínos; anticorpos monoclonais anti aflatoxina e citrinina e estudos experimentais sobre citrinina em suínos. Prêmio de Pesquisa Avícola “Prof. José Maria Lamas da Silva” “Comenda do Mérito Veterinário” Instituto de Veterinária da UFRRJ; Honra ao Mérito Veterinário CRMV-RJ e Professor Emérito da UFRRJ. Presidente da Sociedade Latinoamericana de Micotoxicologia, Presidiu o I Congresso Latinoamericano de Micotoxicologia, RJ. Implantou o Centro de Micologia e Micotoxicologia e o Curso de Mestrado em Microbiologia Veterinária da UFRRJ. Autor dos livros: “Micotoxicologia: perspectiva Latino-americana” e “Micologia Veterinária” Na UFRRJ foi Professor Titular de Micologia e Micotoxicologia. Atualmente é Professor Titular da Universidade Estácio de Sá, responsável pela disciplina de Micologia Veterinária.

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quarta-feira, 16 de abril de 2014

O milagre da multiplicação 
segundo os micologistas.

Taxonomia dos fungos, 
um problema de ego?

      Os micologistas são, certamente, excelentes ilusionistas. Com uma facilidade incrível, eles conseguem duplicar o número de espécies conhecidas de fungos sem que os interessados (fungos) tomem conhecimento. 
    Incrível!   
    Como pode um único fungo se transformar em dois? 
    Como isto é possível?
    O fato é que nossos colegas micologistas  descobriram que poderiam, sem muita dificuldade, ter seus nomes citados "ad eternum" simplesmente criando espécies novas ao fazer a subdivisão de uma espécie em duas. Eles fazem melhor ainda do que criar simplesmente uma espécie nova, eles a colocam em  um outro gênero bem diferente, burocratizando o sistema taxonômico de todo um Reino. 
     Claro que toda esta questão tem uma associação com  a vida sexual íntima dos inocentes fungos. Como se fosse uma coisa proibida por Deus, toda vez que um fungo é descoberto fazendo a sua reprodução sexuada, esta sua característica (que deveria ser particular) é utilizada pelos taxonomistas para a criação de uma nova espécie. A espécie original certamente será mantida do jeito que ela sempre foi, mas não terá o direito de ostentar o seu caráter sexual que fora tão bem guardado, mas que foi, enfim, descoberto. 
   Deve ser muito duro ser fungo em uma terra de homens vaidosos e preconceituosos!

    Os fungos, como todos os outros seres vivos, devem ter um único nome para indicar qualquer fase de sua vida sexuada e assexuada, não importa. 
Vocês não acham?
    Por que um nome específico para quando ele está a fazer sexo e outro para quando ele não está a fazê-lo?
    Em analogia, seria o mesmo se propuséssemos dois nomes para estes seres humanos taxonomistas da Micologia: "Homo sapiens" para quando estivessem na cama a fazer sexo e "Homo idiotus" para quando estivessem fazendo outra coisa qualquer.
Por atitudes como estas, infelizmente adotadas pelos micologistas do mundo inteiro, motivados, quem sabe, talvez por desejarem entrar para a galeria dos eternos, é que a taxonomia micológica tornou-se confusa e cada dia mais difícil de ser colocada dentro de parâmetros lógicos e compreensíveis. Afinal, não existem classes ou famílias e nem qualquer outro tipo de organização entre os seres vivos. Há, na verdade, uma interrelação entre todos os seres vivos, não existindo linhas delimitatórias definidas entre eles. Todas as classificações são feitas com base nos conhecimentos que o homem colecionou sobre os diversos grupamentos. Desta maneira, as classificações dos fungos, como todas as classificações, foram preparadas pelo homem para dar uma certa ordem aos seus conhecimentos sobre eles. 
    Só isso. 
    Porque novos conhecimentos estão constantemente sendo adquiridos, as classificações estarão frequentemente sendo modificadas. O que é natural e desejável.
    Infelizmente, ao contrário de outros ramos da Biologia, ainda não ocorreu na Micologia uma tentativa para unificação dos diversos sistemas de classificação, o que tem levado a algumas confusões. Dois critérios principais são considerados para a classificação dos fungos: o morfológico para os fungos filamentosos e o nutricional para os unicelulares. Os maiores problemas ocorrem no primeiro grupo, pois, muitas vezes, as diferenças entre espécies e mesmo entre gêneros, são baseadas em pequenos e tênues detalhes. Desta maneira, foi criado um imenso número de gêneros e espécies, tornando extremamente difícil organizar um sistema único de classificação. Quando se sabe que variações morfológicas podem ocorrer pela influência das condições de cultivo, tais como a composição do meio de cultivo, temperatura de incubação, umidade, pH, pressão osmótica do meio etc, uma revisão criteriosa precisa ser feita a fim de serem estabelecidos critérios mais rígidos e simplificados para a classificaçãQual é a sua opiniãoo. Além disto, será muito importante fazer, com base nestes critérios, uma revisão em todas as famílias, gênero e espécies procurando reduzi-las ao máximo possível.

    Gostaríamos de salientar que, para nós, um fungo deve ter tão somente um nome, nada mais do que um nome, devendo constar de sua descrição todas as suas características como é norma corrente em todos os outros ramos da Biologia.
Dê sua opinião. 
O que você acha sobre isto?

domingo, 16 de dezembro de 2012

Novo livro do Professor Hygino




Lançamento de livro

"Cidade submersa. 
Fatos, histórias e fantasias"

No dia 23 de novembro de 2012 foi feito o lançamento do livro "Cidade submersa. Fatos, histórias e fantasias"  de autoria de Luiz Celso Hygino da Cruz, (Prof. Hygino), professor Emérito da UFRRJ e Titular da UNESA.


Para adquirir este livro entre em contato com o prf. Hygino através do e-mail: hyginodacruz@gmail.com


                                      

"Cidade submersa. Fatos, histórias e fantasias" é uma história que se desenrola numa das mais difíceis fases da vida nacional que foi fortemente influenciada por dois episódios de repercussão mundial, a grande depressão econômica americana e a Segunda Guerra Mundial. Foram importantes acontecimentos extra-fronteiras que refletiram de maneira marcante sobre a economia brasileira e, em especial, sobre a região focalizada na história relatada pelo autor. "Fatos, histórias e fantasias" se misturam em um relato com histórias  reais acompanhadas de diálogos inventados, mas que poderiam ter ocorrido. 
O enredo principal gira em torno de uma criança de seis anos de idade que foi envolvida com uma enchente diluviana que atingiu sua cidade natal obrigando sua família a se retirar para a fazenda de um de seus tios e, em seguida, para a casa de seus avós em uma vila do interior de Minas Gerais. Na fazenda ele se surpreende com o esplendor do céu estrelado e com os sons da noite em contraste com os produzidos durante o dia. O relato sobre a rotina diária na fazenda é repleto de realismo e lirismo levando o leitor a se sentir como um participante dos acontecimentos. Na casa de seu avô, um misto de apicultor e comerciante, teve a oportunidade de conhecer a vida das abelhas, sua organização social e o poder de seus ferrões venenosos. Descreve a vida dos habitantes da vila, seus personagens principais, seus costumes e hábitos de higiene, as brincadeiras de criança e seus entretenimentos.
Quem nasceu e viveu no interior de um país que, mesmo sendo tão múltiplo, diferente e diversificado como é o Brasil, sabe que na essência todos se parecem e, por isso, logo encontrarão semelhanças com um ou outro dos personagens da história de cada um.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Micologia 5

Fungo, o melhor amigo do homem?

O melhor amigo do homem, ao contrário do que se pensa, não é o cão? 
É o fungo? 
O que você acha?
O certo é que os fungos são seres sociais solidários, colaboradores e participativos. Mas, quando alguém pensa em um fungo, entretanto, logo ele pensa em algo de ruim e, de imediato ele estabelece alguma associação com doenças. É claro, que à semelhança de outros grupamentos biológicos, o ser humano, por exemplo, uma minoria de maus indivíduos coexiste com uma esmagadora maioria de indivíduos de bom caráter.  Assim, entre os fungos, há aqueles que sempre estão associadas a alguma atividade ruim em detrimento de uma maioria que jamais pratica o mal.    
Há tempos que o homem vem estudando os fungos e seu relacionamento com o mundo vegetal e animal. São bem conhecidas dos fitopatologistas as várias dezenas de doenças que eles causam em plantas empregadas na produção de cereais, frutas e hortaliças, em plantas ornamentais, e em todos os tipos de  árvores.  São, também por demais conhecidas, as micoses e as micotoxicoses que afetam o homem e os animais. Entretanto, num outro extremo, são conhecidas inúmeras inter-relações entre seres vivos que se tornaram imprescindíveis para a manutenção de muitas espécies de seres vivos. Mesmo sendo da maior importância, este é um dos aspectos da Biologia que menos atenção vem recebendo ao longo da história natural dos seres vivos. 
Nos dias atuais, muito se tem especulado sobre as inter-relações entre fungos e plantas que não resultam em desenvolvimento de doenças, mas que são de importância vital para a sobrevivência de muitas espécies de vegetais. Observadas de maneira superficial, as plantas costumam ser consideradas como seres individualmente independentes, mas este conceito muda radicalmente quando elas passam a ser avaliadas num contexto mais profundo, quando elas são vistas como participantes de uma coletividade competitiva ou, quando a manutenção da vida de uma espécie pode depender de sua associação com outro ser, mesmo que ele seja totalmente diferente. Neste aspecto, os fungos podem ser considerados verdadeiros mestres, eles são capazes de estabelecer relações com os mais diferentes seres e conviver com eles para sempre,  seja estabelecendo uma interdependência mutualística permanente ou simplesmente atuando como um membro voluntário colaborador, contribuindo para o bem de uma coletividade que poderia ser nem mesmo de seu próprio Reino.  
À luz do que se encontra registrado na literatura, destacamos algumas das principais formas de relacionamento entre fungos e outros seres vivos: 

A)  Os fungos são seres solidários:
1) Com as árvores através das micorrizas - trata-se de uma associação simbiótica do tipo   mutualístico entre um fungo e as raízes de uma planta, geralmente uma árvore. As micorrizas são formadas quando as hifas do fungo penetram nas raízes da planta contribuindo para o aumento da superfície de absorção e, dessa maneira, permitindo que a planta  absorva maior quantidade de água e de sais minerais. Com esta associação, as plantas se adaptam melhor aos climas mais secos e a solos com determinadas deficiências minerais. Em contrapartida, os fungos recebem da planta nutrientes como os carboidratos, que eles não conseguem sintetizar porque não possuem clorofila.   Esta é a forma mais comum de simbiose vegetal que se conhece, podendo ser encontrada em cerca de 80% das famílias de plantas vasculares atualmente conhecidas.
Existe uma grande variedade de tipos de micorrizas, todos caracterizados com base em suas características morfológicas e funcionais. Estão definidos sete tipos diferentes de micorrizas: 1 - Endomicorrizas ou micorrizas arbusculares; 2 - Ectomicorrizas; 3 - Ectendomicorrizas; 4 - Micorrizas arbutóides; 5 - Micorrizas monotropóides; 6 - Micorrizas ericóides e 7 - Micorrizas orquidóides. 

 2) Com as algas, formando os liquens - Dentre as mais conhecidas relações de interdependência existentes entre os seres vivos, destaca-se aquela que resulta na formação dos liquens, quando fungos se associam à algas, numa relação indissolúvel de interdependência.  
Eles são de grande interesse porque participam do desgaste de rochas na formação de solos possibilitando o posterior desenvolvimento de plantas. Considerando, ainda, sua atuação como elemento fundamental para a vida vegetal, alguns deles são importantes fixadores de nitrogênio atmosférico, contribuindo para a fertilização de solos. 
Por serem sensíveis a diversos compostos considerados poluentes, alguns liquens podem ser utilizados como indicadores da contaminação por substâncias radioativas ou como detetores de metais pesados em solos ou da poluição  do ar por dióxido de enxofre.
Na indústria, os liquens são empregados como fontes de corantes e como  bases para fixadores de perfumes finos e como medicamentos. Em algumas regiões são usados como condimentos para pães (Egito) ou geléias (Turquia) e, até mesmo como veneno em flechas (índios nos EUA).


3) Com as plantas, ao se tornarem endofíticos - Fungos endofíticos são aqueles que se desenvolvem nos espaços intercelulares dos tecidos de uma planta sem lhe causar danos e nenhum sintoma de doença pode ser observado. Trata-se de uma relação simbiótica em que o fungo obtém seus nutrientes dos componentes químicos da planta e consegue se perpetuar através de sua disseminação no meio ambiente por meio das sementes da planta hospedeira.  Em contrapartida, o vegetal se beneficia dessa relação ao se aproveitar de alcalóides produzidos pelo fungo para protegê-la do ataque de parasitas e dos rigores da seca. A  presença de um fungo endofítico no interior da planta significa, portanto, a introdução de um fator adicional de defesa para a planta que, em alguns casos, pode ser uma das diversas micotoxinas pertencentes ao grupo dos alcalóides.  
Quando comparadas com plantas não portadoras do fungo endofitico, as que mantêm o fungo em seus tecidos, demonstram não somente maior resistência aos insetos e nematóides, como também suportam melhor os períodos de maior estiagem. Nas plantas infectadas por endofíticos, observa-se também um aumento de tolerância ao pastoreio e um maior  desenvolvimento de massa vegetal, o que as torna mais indicadas para a utilização em pastagens. Esta seria uma associação ideal não fosse a constatação de que fungos endofíticos podem produzir substâncias alcalóides tóxicas para os animais domésticos. Algumas espécies do gênero Neotyphodium estão entre os fungos endofíticos mais estudados dentre aqueles que vivem em associação simbiótica com plantas, em especial porque elas estão intimamente associadas com importantes plantas forrageiras como festuca ("tall fescue") e azevém ("perennial ryegrass"), amplamente utilizadas em pastagens para bovinos, ovinos e equinos. 

4) Com os ruminantes, ajudando em sua digestão - Apropriadamente, o estômago dos ruminantes é denominado de fermentador anaeróbico porque em seu interior, uma população microbiana mista processa os alimentos (capim) ingeridos pelo animal e os transforma em uma mistura de pequenas moléculas que podem ser absorvidas e utilizadas em seus processos metabólicos. Como já se sabe, o rúmen. foi concebido pela natureza para processar vegetais ricos em celulose utilizando uma diversificada populaçāo microbiana constituída por bactérias, protozoários e fungos. Os fungos encontrados no rúmen são anaeróbios e, atualmente, estão classificados nos Filos Chytridiomycota e Neocallimastigomycota. Através de um complexo sistema metabólico microbiano, a celulose e outros componentes presentes nas plantas sāo biotransformados em nutrientes que são aproveitados pelo organismo animal para sintetizar os componentes químicos essenciais ao seu organismo. As bactérias são mais numerosas e participam de cerca de 80% dos processos de biotransformação que acontecem no estômago, os restantes 20% são realizados pelos fungos e protozoários. 
5) Com helmintos ajudando em sua sobrevivência - Um dos exemplos mais interessantes de colaboração prestada por um fungo é a relação existente entre o fungo Pilobolus e as larvas do parasita de bovinos Dictyocaulus viviparus. Quando adulto, este parasita reside na árvore brônquica de bovinos, onde ele põe seus ovos. Ao tossir, o animal elimina ovos que serão engolidos juntamente com a secreção. Chegando ao intestino, os ovos eclodem liberando larvas L1 que são eliminadas nas fezes, onde passam para L2 e depois para o estágio infectante L3. Para completar seu ciclo, as larvar L3 devem retornar ao trato intestinal de um bovino e, para isto, elas precisam ser ingeridas junto com uma planta. O fungo Pilobolus entra na história para resolver um problema: como sair das fezes e chegar até uma planta? Ele é um fungo decompositor que cresce nas fezes de bovinos e, como forma de preservação, ele produz esporângios na extremidade de uma vesícula que, orientada pela luz, explode e lança seus esporos a uma distância de até 2 metros atingindo uma planta que será ingerida por outro animal. Passando pelo trato digestório do animal, os esporos chegam novamente ao ambiente junto com as fezes, reiniciabndo seu ciclo.  As larvas L3 de D. viviparusaproveitam destas características do fungo e sobem até o alto da vesícula para serem arremessadas junto com os esporos do fungo. Desta maneira, as larvar conseguem chegar até uma planta e ser ingerida por um animal podendo, então, continuar e completar o seu ciclo biológico.
                         Pilobolus em fezes de vaca
6) Com a sobrevivência de formigas - "Ou o Brasil acaba com a sauva ou a sauva acaba com o Brasil". Durante muito tempo este dilema foi considerado como sendo uma verdade,  à semelhança do que hoje poder-se-ia dizer: "Ou o Brasil acaba com a corrupção e o analfabetismo, ou os dois juntos acabam com o Brasil".                                                                                                                                                  A maioria das pessoas acredita que as formigas cortadeiras, as sauvas, utilizam as folhas, que cortam das plantas, para se alimentarem diretamente delas. Quem conhece a biologia dessas formigas sabe que, as folhas são levadas para o interior do formigueiro para servirem de substratos para o crescimento de um determinado fungo. Este sim, é o principal alimento dessas formigas. 

B) Os fungos são colaborativos - Os fungos sabem ser solidários em todas as ocasiões, especialmente à mesa de refeições e  em todos os momentos das melhores festas.


1) Com o homem, ao abastecer sua mesa de refeições - os fungos têm se apresentado como seres extremamente solidários com o ser humano. Há milhares de anos eles vêm colaborando para a alimentação do homem, seja servindo diretamente como alimentos (cogumelos), seja atuando como agentes transformadores de certos alimentos para torná-los mais agradáveis e capazes de provocarem os sentidos naturais do animal estimulando o seu apetite. Estão nesta situação,  os pães de todos os tipos, a pizza, certos queijos (roquefort, camembert, brie, gorgonzola), diversos tipos de salames que são maturados sob a ação de fungos e bactérias, além de alguns molhos fermentados de vegetais como os de soja (shoyu, misu, tempeh).


2) Nas festas - Nas festas, os fungos sempre capricham, sua participação é sempre decisiva para o sucesso de todas elas,  qualquer tipo, seja de pobre ou de rico. Que boa festa pode prescindir dos vinhos (bons ou mesmo ruins), das cervejas de todas as marcas e origens ou das diversas bebidas alcoólicas destiladas (cachaça, gim conhaque, whisky, vodka, etc)? Ah, se não fossem os fungos! 


C) Os fungos são revolucionários - Os fungos foram responsáveis por algumas das principais revoluções ocorridas na Medicina. Eles foram literalmente decisivos  para que o ser humano pudesse aumentar seu tempo de vida. Se não fosse pelos fungos, é bem provável que o homem ainda estaria com espectativa de vida girando ao redor dos 60 anos, ou menos. 
Será isso possível? É claro que o homem passou a viver por mais tempo quando ele, finalmente, conseguiu controlar algumas de suas principais doenças: as infecções bacterianas, o excesso de colesterol e encontrou mecanismos para impedir a rejeição de órgãos transplantados.  Em todas essas situações, os fungos foram decisivos: 

1) Na cura das doenças infecciosas: Antibióticos - Em 1941, a descoberta da Penicilina provocou uma revolução na terapêutica das doenças infecciosas. Depois desse primeiro antibiótico produzido pelo fungo Penicillium chrysogenum, diversos outros foram descobertos, como por exemplo, as Cefalosporinas, cuja molécula original foi obtida a partir do fungo Cephalosporium e a Griseofulvina, um  anti-fúngico de largo espectro,  sintetizado pelo Penicillium griseofulvum. Desde então, a Medicina não foi a mesma e, desde então, o homem passou a viver cada vez mais

2) Na prevenção do infarto: Drogas anti-colesterol - Muitas mortes por infarto do miocárdio puderam ser evitadas nos últimos anos quando as estatinas passaram a ser usadas como inibidoras da biossíntese de colesterol no fígado. Poucas pessoas têm conhecimento de que a primeira estatina descoberta, a mevastatina, foi isolada em 1976 a partir do fungo Penicillium citrinum e que a primeira estatina aprovada para uso em humanos, lovastatina foi produzida a partir de culturas do fungo Aspergillus terreus. A sinvastatina, que também é derivada de um metabólito fúngico, inibe a HMG-CoA redutase que é uma enzima hepática importante para a biossíntese de colesterol. Se hoje ainda continuo vivo, devo dar graças aos fungos por nos fornecer estas substâncias milagrosas.

3) No transplantes de órgãos: Drogas anti-rejeição - Os fungos foram fundamentais para que os  transplantes de órgãos e medula pudessem ser desenvolvidos e se tornassem rotineiros em hospitais de todo o mundo. Por ser uma potente substância imunossupressora e, por isso, ser capaz de evitar a rejeição de tecidos transplantados, a ciclosporina A deve ser considerada como a principal responsável por tornar possível os transplantes de tecidos e órgãos. A ciclosporina é um metabólito fúngico isolado pela primeira vez a partir de culturas do fungo Tolypocladium inflatum e depois, também de outros fungos como o Trichoderma polysporum e o Cylindrocarpon lucidum,




D) Os fungos são participativos 
1) Ao colaborar com a natureza - Os fungos participam ativamente de todos os movimentos de preservação e recuperação do meio ambiente. Sua participação na reciclagem de materiais é fundamental para a preservação do meio ambiente. Enquanto o homem faz tudo o que é possível e inimaginável para   destruir o meio ambiente, os fungos fazem o caminho contrário. Eles de maneira contínua e persistente, vão limpando e recuperando o que o homem vai sujando, poluindo e destruindo.  Justiça seja feita, porque a consciência ecológica dos fungos vai um pouco mais adiante ainda, eles atuam eliminando não somente os poluentes produzidos pelo homem mas, também, tudo o que é eliminado pelos seres vivos, não importando a que reino pertença. assim, os fungos participam da reciclagem de materials de toda ordem: eles fazem a decomposição de vegetais (celulose, lignina), de animais (quitina, queratina), de materiais industrializados (papel, tecidos, couro, madeira, etc), de petróleo  cru e seus derivados (gasolina, querosene), borrachas e muitos outros como discos, lentes e filmes.


2) No controle biológico - Manter o equilíbrio biológico entre todos os habitantes da terra é o ideal e o que todos desejam. Entretanto, em determinados ambientes ou em ocasiões especiais, uma ou outra espécie animal, por um motivo qualquer,  pode se tornar predominante. As consequências desse desequilíbrio  sempre serão imprevisíveis e, por isso mesmo, sempre serão indesejáveis. Os fungos são um dos elementos chaves nesse processo. 
a) Algumas espécies da ordem Zoopagales que vivem no solo, tornaram-se predadores de helmintos que parasitam raízes de plantas ou de larvas de helmintos que são  parasitas  de animais domésticos. Diversos helmintos, que parasitam animais domésticos, realizam parte de seu ciclo biológico no solo em que suas fezes são depositadas. Fungos da ordem Zoopagales produzem, com suas hifas, armadilhas sensitivas semelhantes a laços. Quando um helminto passa por dentro de um deles, ele se fecha imediatamente e só volta a abrir quando o  animal morre e para de se movimentar.
b) Beauveria bassiana é uma das espécies fúngicas mais comumente associadas com doenças infecciosas de ocorrência natural em insetos. Isto quer dizer que, de forma natural, este fungo já vinha participando, de forma natural, do controle de populações de insetos. Como é por demais sabido, o controle de pragas pela aplicação de inseticidas químicos traz uma série de efeitos colaterais como a intoxicação de seres humanos e de animais domésticos e selvagens (mamíferos e aves) e a destruição indiscriminada de insetos, sem distinguir os que são úteis, como as abelhas, dos que são prejudiciais. Tudo isso, sem falar na poluição dos rios e mares e de seus inúmeros habitantes.  
Não acredito que os inseticidas biológicos sejam uma solução milagrosa para o controle das pragas das lavouras, dos parasitas do homem e dos animais ou dos muitos vetores de doenças infecciosas. Creio, sim, que, em um futuro próximo, os microorganismos poderão se transformar em importantes aliados do homem como forma de reduzir a atual aplicação indiscriminada de inseticidas químicos.  


3) Na produção de biocombustível - Um pequeno fungo cuja estrutura é constituida de um única célula, reconhecido pelo nome de Saccharomyces cerevisiae foi personagem de uma revolução na indústria automobilística nacional e foi fundamental ao país durante a crise mundial do petróleo. Utilizado na produção de álcool carburante, ele deu ao Brasil a oportunidade de ter uma alternativa energética ao petróleo importado e não renovável. Com sua vocação para a produção de álcool, este minúsculo ser transformou-se, literalmente, no salvador da pátria ao reduzir nossa dependência de petróleo importado. Os problemas político-administrativos que emperraram e quase destruíram o programa brasileiro de substituição do petróleo pelo álcool combustivel certamente que não foram de responsabilidade do S. cerevisiae. 

O texto acima traz alguns exemplos de situações em que os fungos se encontram associados a um ou outro evento de real interesse para a manutenção da vida sobre a Terra. Evidentemente que os relatos feitos foram baseados tão somente no pouco que o homem já sabe sobre o grande mundo dos fungos. Um mundo que, sendo tão vasto e diversificado, muitos e  muitos anos ainda irão se passar antes que o homem consiga desvendar apenas uma pequena parcela dele. 

domingo, 12 de agosto de 2012


MICOLOGIA 4. 
Associações entre Malassezia pachydermatis com Proteus, Pseudomonas e Staphylococcus em otites externas em cães.



INTRODUÇÃO

Com base em suas características morfológicas, fisiológicas, nutricionais e moleculares, o gênero Malassezia foi dividido em sete espécies. Se considerarmos unicamente as necessidades nutricionais, estas sete espécies podem ser subdivididas em dois grupos: um constituido de seis espécies, todas lipofílico dependentes: M. restricta, M. sympodialis, M. furfur, M. slooffiae, M. globosa, e M. obtusa e o outro, que é lipofílico não dependente, somente com uma espécie, M. pachydermatis. As espécies lipídeos dependentes são incapazes de sintetizarem ácidos graxos de cadeia longa (contendo de 12 a 24 átomos de carbono), que são necessários à biossíntese de sua membrana celular (Guillot & Guého, 1995 e Guillot, Guého & Chermette, 1995).
Malassezia pachydermatis é um fungo leveduriforme não produtor de hifas ou de pseudo-hifas que pode ser encontrado tanto no conduto auditivo, como na pele de cães e de outros animais sadios e, com frequencia, é encontrado associado a otites externas em cães (Gustafson, 1960). Ao contrário das outras espécies do gênero, M. pachydermatis não exige lipídeos, mas o seu crescimento é estimulado quando ele se encontra disponível em altas concentrações como em peles muito oleosas, em conduto auditivo com excesso  de cerúmen e em meios de cultura suplementados com óleo vegetal. Há indicios de que   o seu crescimento também possa ser aumentado quando se desenvolve na presença de Staphylococcus (Fraser, 1961; Gabal, 1988; Nobre et al., 1998). O desenvolvimento de M. pachydermatis pode ser estimulado pela redução de microorganismos competidores devido ao uso indiscriminado de antibióticos. Estes, além de reduzirem a competição entre bactérias e fungos ao eliminar bactérias comensais, que competem com o fungo, também podem levar ao aumento da resistência bacteriana, quando aplicado de forma inadequada (Lobell, Weigarten & Simmons, 1988).   De acordo com Mason (1991), parece existir uma relação simbiótica entre M. pachydermatis  e Staphylococcus sp, podendo ocorrer uma ação conjunta entre estes dois microorganismos em dermatopatias. Sendo M. pachydermatis lipofílica, a presença de grande quantidade de lipídeos no conduto auditivo pode estimular a sua multiplicação (Huang, Littler & Fixter, 1993).
O papel da  Malassezia pachydermatis na etiologia de otites externas vem sendo discutido há muitos anos e, desde o início, tem sido motivo de muitas controvérsias, com o seu papel de agente causador de otites externas sendo contestado por alguns (Fraser, 1961), ou considerado importante por outros (Smith, 1968). Atualmente, não existem mais dúvidas quanto à participação deste fungo leveduriforme na etiologia das otites externas (Gabal, 1988; Huang, Little, & Fixter, 1993; Machado, Appelt, Ferreiro, & Guillot,  2003; Mansfield, Boosinger, & Attleberger, 1990; Nobre, 2001).


MATERIAIS E MÉTODOS

Material - Os animais, cães de diversas raças e idades, de ambos os sexos, domiciliados em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro, não foram examinados diretamente pelos autores. Foram animais atendidos em diversas clínicas localizadas em vários bairros da cidade, os clínicos assistentes consideraram estes animais como portadores de alterações patológicas que justificavam a solicitação de análises microbiológicas com vistas à caracterização do agente etiológico e à realização de um antibiograma. Para isto, com o auxílio de swab estéril, na maioria das vezes, acondicionado em meios de transporte, foi coletado material ceruminoso ou purulento, do conduto auditivo de 342 animais e enviados ao nosso laboratório em Campo Grande, Rio de Janeiro (Labovet). Estes materiais apresentavam os mais diversos aspectos: incolor, marrom claro, marrom escuro, vermelho (com sangue), purulento, inodoro, com odor pútrido etc. Todos os materiais, após terem sido coletados, foram transportados sob refrigeração, e levados imediatamente por meio de transporte motorizado.

Citologia - Previamente ao cultivo, foi realizada uma citologia de cada material coletado, preparando-se um esfregaço através de um movimento rotatório feito com o  swab sobre uma lâmina de microscopia, previamente descontaminada na chama do bico de Bunsen. A coloração foi feita pelo método de Gram e a contagem de leveduras foi realizada em aumento de 1000 x, determinando-se o número médio em um total de 10 campos diferentes.

Cultivo – Considerando que a principal exigência nutricional da Malassezia está relacionada à dependência de ácidos graxos, diversos procedimentos podem ser empregados para cultivá-la, sendo o principal o emprego de meios de cultura adicionados de óleos vegetais (canola, soja, milho, girassol, oliva) para que se consiga bons crescimentos de todas as sete espécies. M. pachydermatis que é lipofílica, mas não lipodependente, pode ser cultivada nos meios de uso comum em micologia, como o meio de Sabouraud, acrescido de antibióticos como o cloranfenicol (Fig. 3). Neste meio, M. pachydermatis apresenta colônias redondas, convexas, foscas, de cor creme-amarelada e textura friável; o crescimento ótimo se dá à temperatura de 37°C em 48 a 72 horas. Podem ainda ser observadas colônias com dois diferentes fenótipos no que diz respeito ao diâmetro (grandes ou pequenas), ambas contendo células com as mesmas características microscópicas.
Para o cultivo de bactérias, cada swab foi mergulhado em 1 ml de solução salina estéril, seguindo-se agitação forte, para se obter  uma suspensão com o material presente no algodão do swab. Com uma alça de platina, uma gota desta suspensão foi semeada em placas de agar sangue, incubando-se em estufa a 37o C por 24 a 48 horas.


Fig. 3 - Cultivo de M. pachydermatis em meio de Sabouraud acrescido de óleo vegetal


Identificação das bactérias – A identificação dos isolados baseou-se nas características coloniais, morfologia microscópica (coloração de Gram), motilidade e em testes bioquímicos. 
Para o gênero Staphylococcus foram empregados os testes de hemólise, catalase, fermentação do manitol, prova da coagulase e DNAse. 
Para os Gram negativos foram empregados os Enterokits B e C, constituídos dos seguintes testes: fermentação de lactose, adonitol, provas de indol, H2S, urease, hidrólise da gelatina, utilização de citrato, desaminação do triptofano, descarboxilação da lisina, ornitina.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

No diagnóstico das otites externas, as análises citológicas, muito importantes na definição da etiologia, devem ser feitas com muito cuidado porque, em cerca de 35% dos materiais oriundos de animais sem história clínica de otite, podem ser encontradas leveduras com características morfológicas de M. pachyderrnatis. Por isso, houve necessidade de estabeler parâmetros que indicassem um estado de normalidade ou de um processo patológico em que houvesse o envolvimento da Malassezia. Tendências atuais indicam que M. pachyderrnatis poderá ser considerada como agente etiológico de otites externas quando, em um exame citológico, for observado um número médio superior a seis leveduras por campo de observação microscópica, considerado em relação ao uso da objetiva de 100x (Fig. 1 e 2.). Claro que este número não deve ser encarado como um parâmetro matemático único e absoluto, devendo haver uma correlação com alterações observadas em exames clínicos e até mesmo uma resposta positiva a um tratamento antifúngico específico. É importante também considerar que o papel dos microorganismos nas otites externas nem sempre é bem caracterizado, pois há casos em que a M.  pachydermatis é encontrada sozinha e outros em que ela vem acompanhada por bactérias. 



Fig. 1 - Citologia otológica de cão com otite externa: coloração de Gram. Aumento de 400x

Fig. 2 - Citologia otológica de cão com otite externa: coloração com Panótico. Aumento de 1 000x.

Alguns pesquisadores consideram que  Pseudomonas aeruginosa pode ter ação inibidora sobre a multiplicação da levedura, enquanto o Staphylococcus aureus, ao contrário, teria a propriedade de estimulá-la (Gabal, 1988; Nobre et al., 1998). Nossos resultados parecem confirmar, pelo menos em parte, estas observações visto que, Pseudomonas aeruginosa foi observada em 87 casos (71,1%) não associada com M. pachyderrnatis, ou em 98 casos (80,1%), se também computarmos aqueles casos em que o número de leveduras observado à citologia foi inferior a 5, índice considerado normal (até 5, em média por campo microscópico), em apenas alguns casos, o número de leveduras foi acima de 5 (24 casos ou 19,9%). Staphylococcus aureus foi encontrado em 51 casos (34,9%) sem a presença de leveduras ou em 81 (55,5%), acompanhado de até 5 leveduras e, em 65 casos ou 44,5%, havia a presença de número superior a 5 leveduras. Por estes resultados, parece haver por parte da Pseudomonas aeruginosa, uma influência inibitória sobre M. pachyderrnatis, mas o  efeito estimulador que o Staphylococcus  exerceria, não parece ser um fato, visto que somente em 44,5% dos casos ele estava associado com leveduras em número superior a 5.  Com relação ao Proteus spp, os resultados foram semelhantes aos que foram observados com Pseudomonas aeruginosa (Tabela 1). 



 
Referências

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terça-feira, 3 de julho de 2012


          
          Micotoxinas. 6 
Micotoxinas em plantas forrageiras.  

As gramíneas são amplamente utilizadas pelo homem como fontes de alimentos, seja na produção de cereais (trigo, milho, sorgo, arroz, cevada, centeio, aveia, etc), seja como forrageiras empregadas na alimentação de animais (alfafa, azevém festuca, brachiaria, colonião, elefante, etc). Na alimentação animal, as gramíneas e outras plantas forrageiras, podem ser  aproveitadas de várias maneiras: 
a) como pastagens verdes; 
b) como palhas secas, quando as plantas são deixadas no campo após a colheita dos cereais e fornecidas aos animais; 
c) na forma de feno;
d) como silagens;
e) na forma de concentrados, quando cereais ou subprodutos da agroindústria são utilizados na formulação  de rações.

Se considerarmos que em cada uma das situações indicadas acima, o ecossistema irá se apresentar de forma bem diversa, entenderemos que em cada caso, poderá haver fungos diferentes e, consequentemente, micotoxinas também diferentes. 



a) Fungos patogênicos para plantas. 

Há inúmeras espécies de fungos capazes de causar doenças em plantas. Algumas delas, ao invadirem os tecidos vegetais, seja ele de natureza vegetativa ou reprodutiva, podem produzir substâncias tóxicas para os animais e o homem. Gramíneas que são utilizadas habitualmente como forrageiras  ou as que são usadas na produção de cereais como o arroz, trigo, cevada, centeio, aveia, estão sujeitas à infecções causadas por fungos em sua fase de crescimento no campo. Durante o desenvolvimento desses fungos na planta, algumas espécies produzem micotoxinas que podem permanecer ativas mesmo após a planta ter se transformado em palha ou ter sido cortada e submetida à secagem para a produção de feno ou para ser transformada em silagem. 
Dentre os fungos mais conhecidos como agentes de doenças em plantas e que também são produtores de micotoxinas enquanto as plantas ainda estão vivas e crescendo nas lavouras ou nas pastagens, destacam-se espécies dos gêneros Fusarium, Alternaria, Rhizoctonia, Stenocarpella (Diplodia). Dentre as muitas substâncias tóxicas produzidas nestas circunstâncias, podemos destacar algumas das principais micotoxinas elaboradas por espécies dos gêneros: 
Fusarium -  Nivalenol (NIV), Deoxinivalenol (DON), Zearalenona, T2, HT2 e a Fumonisina; 
Alternaria - um gênero relativamente pouco estudado pelos micotoxicologistas, que, nos últimos anos tem sido associado com a produção de diversas micotoxinas potencialmente importantes para a criação de animais como o Alternariol, o Alternariol mono metil éster, o Altenanueno e o Ácido Tenuazônico; 
Rhizoctonia leguminicola - fungo que produz a Slaframina; 
Stenocarpella (Diplodia) maydis - fungo patogênico para o milho e que é produtor de Diplodiatoxina.


1. Slaframina


  • Slaframina é uma micotoxina produzida pelo fungo Rhizoctonia leguminicola classificada no grupo químico dos alcalóides que possuem o anel indol em sua estrutura molecular (alcalóide indolizidínico). É o agente da Sialorréia micotóxica que tem sido observada em equinos, bovinos, ovinos e caprinos mantidos em pastagens de trevo: trevo vermelho (Trifolium pratense) e trevo branco (Trifolium repens) ou que recebem suplementação de feno de alfafa contaminada pelo fungo.
  • Sinais clínicos - Os sinais surgem logo após a ingestão da forragem contaminada (1 a 3 horas) e , com a retirada do alimento contaminado, começam a diminuir após 48 a 72 horas. 
  • Por causa da ação parassimpaticomimética da micotoxina, que imita a ação da acetilcolina, ao se ligar aos seus receptores, os sinais clínicos mais frequentemente observados são: 
  • a) salivação excessiva;
  • b) lacrimejamento moderado;
  • c) micção frequente, cólicas e diarréia;
  • d) se o consumo de alimento contaminado persistir, pode-se observar perda de peso, redução da lactação e timpanismo.
  • Epidemiologia - Ao infectar as folhas da planta formando manchas negras em forma de anéis, o fungo Rhizoctonia leguminicola se desenvolve formando hifas escuras que vão se estendendo e invadindo toda a folha, culminando com a morte da planta. A partir do centro surgem órgãos de frutificação, esclerócios pretos que ao caírem no solo permitem que o fungo permaneça viável e persista nos solos de áreas infectadas de um ano para outro. Enquanto o fungo cresce e metaboliza os componentes químicos da planta, ele produz e libera a micotoxina Slaframina que pode estar presente tanto nas pastagens como  também em feno seco armazenado. 
  • No feno armazenado, a Slaframina pode se manter ativa por 10 meses ou mais, sua concentração pode diminuir, mas sua atividade biológica pode permanecer a mesma. Se, por exemplo, o feno contiver o equivalente a 100 ppm de slaframina, após 10 meses, mesmo que sua concentração tenha se reduzido para cerca de 10 ppm, ela continuará produzindo seus efeitos.  
  • Tratamento - Não há tratamento específico para a intoxicação e nem é necessário porque o animal retorna à normalidade com a retirada da forragem contaminada. Pode-se fazer tratamento sintomático com atropina para reduzir a salivação e a diarréia. 
  


  2. Diplodiatoxicose

A diplodiose foi descrita pela primeira vez na África (África do Sul,  Rodésia e Zâmbia) e, no Brasil, ela foi observada inicialmente no  Rio Grande do Sul, em bovinos alimentados com palha de milho deixadas no campo após a colheita. A intoxicação é mais frequênte no inverno e em épocas de maior precipitação pluviométrica quando bovinos e ovinos se alimentam de palhas secas de milho onde ainda restam espigas contendo grãos colonizados por Stenocarpella (Diplodia) maydis.  Esse fungo é um patógeno do milho que invade o caule, a folha e as sementes da planta em desenvolvimento no campo. A infecção dos grãos se inicia pela base da espiga com a produção de um micélio de cor cinza ou marrom-claro. Durante o seu crescimento, o fungo produz picnídios negros que são órgãos de frutificação produzidos na espiga de milho. Ao caírem no solo, os picnídios permanecem viáveis durante o inverno e a primavera, até que uma  nova lavoura de milho é formada. Os esporos que são liberados dos picnídios são transportadas pelo ar ou por insetos indo infectar o milho durante o seu crescimento. Após a colheita, e durante o inverno, quando quando há pouca disponibilidade de forragens os animais costumam ser colocados para se alimentarem da palha seca que restou no campo após a colheita do milho ocorrendo, então, os episódios de intoxicação.

O princípio ativo é um metabólito tóxico denominado  diplodiotoxina que foi isolado e caracterizado a partir de culturas de Stenocarpella (Diplodia) maydis. Somente o picnídio do fungo é tóxico, sendo necessário cultivar o fungo por 6-8 semanas para reproduzir experimentalmente a doença. 

Sinais clínicos - A morbidade é variável entre 25% e 80% e a mortalidade entre 10% e 20%. Os sinais clínicos caracterizam-se por: 
a)  tremores musculares generalizados; 
b) incoordenação, quando os animais caminham de forma característica levantando exageradamente os membros; 
c) ataxia, paralisia e dismetria; 
d) quando os animais são movimentados os sinais clínicos se agravam, podendo haver quedas. Alguns animais permanecem em decúbito lateral ou esternal permanente e morrem; 
e) a maioria dos animais recupera-se em 10 a 12 dias após serem afastados do material contaminado. 
Lesões - Não se observam lesões macroscópicas, mas na histopatologia observa-se de moderada a severa degeneração na mielina da matéria branca do cerebelo. 
Diagnóstico - O diagnóstico se baseia na observação dos sinais clínicos e na observação de picnídeos de Stenocarpella (Diplodia) maydis na palha e espigas do milho que permanecem no campo.
Controle - A única forma de controlar a intoxicação é promover o imediato afastamento dos animais dos locais onde exista palha contaminada. A recuperação ocorrerá em poucos dias.
  • b) Fungos decompositores
  • de matéria vegetal. 

Em gramíneas, as folhas localizadas na base da planta são as mais velhas e já se encontram em decomposição pela ação de diversos fungos saprófitas. Entre os fungos que participam do processo de reciclagem dessa matéria orgânica vegetal, destaca-se  o Pithomyces chartarum que é fungo produtor de esporidesmina, uma micotoxina que, por ser hepatotóxica, é um dos causadores da fotossensibilização micotóxica em animais. 

Pithomyces chartarum - Esporidesmina
Fotossensibilização micotóxica - Em países como a Austrália e a Nova Zelândia, a fotossensibilização causada pela esporidesmina vem ocupando, há alguns anos, um lugar de destaque entre as patologias de interesse econômico para a criação de animais de produção. Esta micotoxina é produzida pelo Pithomyces chartarum, um fungo que não sendo patogênico para as gramíneas, cresce somente nas folhas mortas da planta que se encontram em contato com o solo. Portanto, é um fungo que atua na decomposição da matéria orgânica vegetal contribuindo para a sua reciclagem. Entretanto, a   o crescer nestas folhas, durante o seu ciclo reprodutivo assexuado, com produção de conídios, também ocorre a biossíntese daesporidesmina. Para que esta micotoxina seja sintetizada pelo Pithomyces chartarum em gramíneas, é necessária a conjugação de pelo menos três fatores: temperatura entre 20 e 28o C, radiação solar (ultravioleta = sol) e umidade elevada.


  Fig. 1. Pastagem de Brachiaria decumbens com folhas secas em decomposição.


     Fig. 2. Conídeos de P. chartarum, em forma de granada, septados nos sentidos longitudinal e transversal.



 Tabela. 1. Efeito da temperatura sobre a esporulação  
        do P. chartarum
Temperatura (oC)
Peso seco
Conídeos/mL
20
3,5 mg/mL
209 x 10 4
24
4,1 mg/mL
218 x 10 4
28
3,7 mg/mL
194 x 10 4



No Brasil, este tipo de fotossensibilização tem sido observado com maior frequência em bovinos e ovinos mantidos em pastagens de Brachiaria decumbens. Entretanto, a participação da esporidesmina  nestes casos, tem sido colocada em dúvida  por pesquisadores que  verificaram que a maioria das culturas de P. chartarum obtidas destas pastagens não produziram a micotoxina. A prudência sugere que estudos complementares sejam realizados com maior número de cepas do fungo originadas de diferentes regiões do pais, comparadas com cepas comprovadamente produtoras de esporidesmina.





Fig. 3.  Animais intoxicados pela ingestão de pastagens contendo esporidesmina com lesões semelhantes a queimadura.

A esporidesmina é basicamente uma micotoxina hepatotóxica e, para que surjam os sintomas característicos de fotossensibilização, é necessário que as lesões produzidas pela micotoxina evoluam para a obliteração dos dutos biliares, impedindo que a bile seja eliminada no intestino. Nos animais normais, junto com a bile, também é eliminada a filoeritrina que é um produto oriundo do desdobramento da clorofila e que possui atividade fotossensibilizadora. Não sendo eliminada junto com a bile, a filoeritrina cairá na corrente circulatória provocando a fotossensibilização.




Fig. 4. Resumo esquemático do mecanismo de desenvolvimento da fotossensibilização micotóxica em ruminantes.
 Por ser uma micotoxina hepatotóxica, mesmo que não ocorra a fotossensibilização, é evidente que as lesões provocadas pela micotoxina já serão suficientes para causar prejuízos à fisiologia do animal, com reflexos em seu desenvolvimento corporal ou na produção de leite.

No controle da fotossensibilização micotóxica vários procedimentos foram experimentados, alguns resultaram em processos viáveis, outros se mostraram caros em demasia e outros, ainda, não foram conclusivos. Dentre eles podemos citar:




• Acompanhamento e análise das condições climáticas procurando identificar a confluência dos fatores climáticos que podem estimular a esporulação. Quando ficar evidente que os três principais fatores irão coincidir em um mesmo período, os animais deverão ser afastados da pastagem de B. decumbens.

• Como já foi devidamente demonstrado há uma correlação positiva entre o processo de esporulação do P. chartarum e a produção de esporidesmina deixando a pastagem tóxica para os animais. A fotossensibilização poderá se desenvolver quando em uma pastagem houver uma concentração superior a 200 000 conídeos de P. chartarum por grama de folhas secas de B. decumbens. A contagem de esporos, se conduzida adequadamente, poderá ser uma boa maneira de controlar a qualidade da pastagem, determinando os períodos em que ela não deverá ser utilizada.

• A aplicação de fungicidas nas pastagens por meio de aviões agrícolas foi uma das propostas experimentadas na Austrália e Nova Zelândia, com resultados considerados positivos, se analisados somente pelo lado microbiológico. A aplicação de tiabendazole resultou em considerável redução no número de conídeos do fungo, mas os custos eram muito elevados, inviabilizando a utilização do método.

P. chartarum é um fungo que vive no solo e se desenvolve nas folhas velhas da planta, que estão mortas e se encontram junto ao solo. Ele é um daqueles fungos que participam do processo de reciclagem da matéria orgânica presente neste material vegetal. O sistema de rotação de pastagens é uma boa maneira de evitar que os animais comam a parte inferior da planta que contém o fungo e sua toxina. A mudança periódica de pastagem um pouco antes de o animal ter acesso às folhas mortas irá, além de impedir de maneira eficiente, que o animal se intoxique, introduzir uma boa prática de manejo, com evidentes resultados no desenvolvimento animal.

• Experimentos com dietas ricas em proteínas demonstraram que é possível reduzir os efeitos hepatotóxicos da esporidesmina diminuindo, inclusive, os índices de mortalidade nos animais de experimentação.

• O desenvolvimento de uma vacina foi tentado, sem sucesso. Como as outras micotoxinas, a esporidesmina não tem propriedades imunogênicas porque elas são haptênicas. Para se tornarem imunogênicas, as micotoxinas necessitam que uma molécula de proteína seja conjugada a ela. Como acontece com outras micotoxinas, esta conjugação é possível, mas os anticorpos obtidos após inoculações em animais, não são protetores contra as intoxicações. Eles não protegem contra as intoxicações, mas são capazes de reagirem com as micotoxinas específicas in vitro. Isto tornou possível o seu emprego em kits imunológicos para a detecção de micotoxinas em alimentos ou em tecidos de animais.

• O tratamento dos animais intoxicados é sintomático e inclui o afastamento deles da ação direta da luz solar, o uso de medicamentos protetores hepáticos e o tratamento local das áreas afetadas, para prevenir infecções bacterianas.  


c) Micotoxinas em palhas secas.

Plantas secas são comumente utilizadas na criação de animais como alimentos volumosos para a alimentação de bovinos, equinos, caprinos ou ovinos ou para serem usadas na forma de cama para cobrir o piso de ambientes em que os animais são mantidos estabulados ou confinados. Elas podem ser fornecidas como: 
a) Palhas secas - que são abandonadas no campo após a colheita de uma das várias gramíneas usadas na produção de grãos, como o milho, arroz, trigo, cevada, centeio, etc.. Palhas secas dessas plantas, que são deixadas no campo após a colheita, costumam ser utilizadas na alimentação de bovinos, equinos e de outros herbívoros que são colocados para pastarem sobre essas sobras de lavouras. Como é natural no processo de reciclagem da matéria orgânica vegetal, a exposição das partes já mortas da planta, possibilitará o desenvolvimento de diversos fungos decompositores e, dentre eles, poderão surgir espécies micotoxigênicas.  
É importante salientar que, durante o ciclo de desenvolvimento da planta, ela poderá se tornar infectada por fungos diferentes daqueles que participam da reciclagem da matéria morta. Dessa maneira, poderá haver micotoxinas na  palha, que foram produzidas enquanto a planta ainda estava viva (toxinas do Fusarium, por exemplo)  e  outras  que somente serão produzidas quando elas já estiverem mortas e em decomposição.
b) Cama - Este tipo de material também é bastante utilizado como cama em estábulos, pocilgas e outros ambientes usados para o abrigo de animais. O principal objetivo para se cobrir o piso com capim seco (cama) é a redução da umidade ambiental através da absorção de água pela palha seca. Por absorver água do ambiente a palha se torna úmida e, por isso, se transforma em um substrato adequado ao crescimento de diversos fungos que, ao metabolizarem a matéria orgânica vegetal, poderão liberar metabólitos secundários tóxicos. 

ESTAQUIBOTRIOTOXICOSE

Estaquibotriotoxicose é uma micotoxicose que se manifesta especialmente em equinos (mais sensíveis), bovinos, ovinos e suínos que consomem palhas ou fenos obtidos de plantas onde tenha ocorrido crescimento do  fungo Stachybotris atra. 
Micotoxinas - Stachybotris atra é um fungo capaz de produzir diversas micotoxinas do grupo dos Tricotecenos macrocíclicos, destacando-se entre elas  as Satratoxinas F, G e H, os Tricoverróis A e B, as Trocoverrinas, as Verrucarinas B e J, a Roridina E, as Atranonas e  a Estaquilisina (uma hemolisina). Não se sabe, ainda, quais destas micotoxinas ou se todas elas podem estar correlacionadas com o quadro de intoxicação. As mais estudadas têm sido as Roridinas, Verrucarinas, Satratoxinas e as Bacarinas .
É importante salientar que tanto as Roridinas quanto as Verrucarinas também podem ser produzidas no solo por Myrothecium roridium e  M. verrucaria e absorvidas através das raizes pela planta Baccharis coridifolia que é uma conhecida planta tóxica. 
Efeitos tóxicos - À necrópsia observa-se lesões necróticas e hemorrágicas em diversos órgãos. 
O principal mecanismo de ação dos tricotecenos macrocíclicos está associado à potente ação inibidora que exercem sobre a biossíntese de proteínas em células eucarióticas, afetando principalmente a divisão celular. São também dotadas de propriedades leucotóxicas e dermonecróticas e são inibidoras de sistemas enzimáticos, além de serem imunotóxicas. 
Sinais clínicos - A Estaquibotriotoxicose pode se manifestar de duas formas distintas: 
a) Aguda com gastroenterite hemorrágica ou
b) Crônica com leucopenia.
Observa-se, inicialmente, lesões necróticas localizadas na boca, seguindo-se um quadro de leucopenia e coagulopatia, culminando com óbito. Os animais também podem apresentar intensa irritação na pele e nas membranas mucosas. 
Epidemiologia - Há evidências de que a intoxicação possa ser desencadeada não somente pela ingestão das micotoxinas presentes na planta contaminada pelo fungo, como também através da inalação de conídios e fragmentos de hifas que carreariam as micotoxinas. Esta possibilidade se reveste de grande importância porque, além dos animais, também o homem estaria sujeito á contaminação através da inalação de poeira emitida pela movimentação dos estoques de palha ou de feno.






d) Micotoxinas em fenos e silagens.
Fenos
Durante o processo de fenação, quando as forragens depois de cortadas são submetidas à secagem por exposição ao sol, os fungos  que são patogênicos para as plantas, entre eles, Fusarium, Cladosporium e Alternaria, morrem e são substituídos por espécies de outros gêneros que, também, poderão ser toxigênicas.  Em geral, as espécies que se desenvolvem nesta segunda etapa, pertencem aos gêneros Aspergillus e Penicillium, com predomínio de um ou de outro, de acordo com o tipo de substrato e com as condições ecológicas do ambiente de estocagem. Isto quer dizer que só haverá crescimento de fungos no feno estocado se ele vier a ser mantido em ambientes que possibilitem o aumento de sua atividade de água (Aa)
As micotoxinas que forem produzidas na planta ainda verde, antes de ser cortada e fenada, podem continuar ativas mesmo após a planta ter sido seca e transformada em feno. Por esse motivo, algumas micotoxinas como a zearalenona e o deoxinivalenol, podem ser encontradas em fenos, mesmo que não se tenha sucesso nas tentativas de cultivar o Fusarium. Às micotoxinas pré-existentes, serão incorporadas outras que vierem a ser produzidas por espécies dos gêneros Aspergillus e Penicillium.  
Análises micológicas realizadas em amostras de feno demonstraram a presença, em elevados percentuais, de Aspergillus fumigatus, Aspergillus nidulans, Aspergillus versicolor e de espécies do grupo Aspergillus glaucus Em outro estudo, verificou-se que os gêneros Fusarium, Cladosporium, Alternaria e Acremoniella, presentes logo após a colheita, foram substituidos por espécies dos gêneros Aspergillus (A. flavus, A. glaucus, A. candidus, A. niger) e Penicillium).    
Aspergillus fumigatus
Dentre os fungos contaminantes de feno, o Aspergillus fumigatus pode ser considerado como um dos mais importantes. Além de ser um contaminante  frequente, ele é um dos principais agentes de infecções fúngicas em animais domésticos e no homem. A Aspergilose tem sido diagnosticada em bovinos, equinos, ovinos, suínos, cães, coelhos e em animais silvestres. A localização pulmonar é a mais comum, mas também podem ocorrer infecções generalizadas, incluindo o comprometimento da mucosa intestinal e de nódulos mesentéricos. As lesões são granulomatosas e caracterizadas pelo desenvolvimento do fungo em uma colônia envolvida pela reação tecidual do organismo animal. 


As infecções no aparelho respiratório são mais frequentes em animais que são estabulados e permanecem por longos períodos em contatos com materiais de origem vegetal (feno, ração ou cama de palha) que podem mofar se estiverem com elevado grau de umidade. Os animais inalam os conídios produzidos pelo fungo iniciando o processo infeccioso.

Em bovinos pode ocorrer tosse fraca com respiração dificultosa, diarréia sanguinolenta e fétida, febre baixa e perda de apetite. Podem ser observadas lesões pulmonares caracterizadas por nódulos na cavidade sub-pleural  e enfisema interlobular. A infecção pode se tornar generalizada e também pode ocorrer aborto, quando o fungo alcança o útero através da circulação sanguínea.

Em equinos, também o aborto pode ser observado secundando uma infecção pulmonar. Também pode ocorrer meningite e infecção generalizada. É bastante frequente a infecção da bolsa gutural por AspergillusA. fumigatus também pode ser responsável por mastites em vacas e cabras.





 Silagens 

Ensilagem é um sistema de preservação de forragens verdes mantidas em silos sob baixa tensão de oxigênio (anaerobiose) e alto grau de acidez resultante de fermentações bacterianas. No preparo das silagens são empregados vegetais que não contêm sementes maduras, mas somente um misto de plantas com seus caules e folhas ou, até mesmo sementes ainda imaturas. Toda a matéria verde é cortada em pequenos pedaços e transferida para o silo onde deve ser bem prensada para a eliminação do oxigênio. Para acelerar o processo fermentativo, podem ser utilizados inoculantes bacterianos que sejam produtores de ácido propiônico e ácido lático. Silagens inoculadas com uma associação de Propionibacterium acidipropionici e Lactobacillus plantarum apresentam menor crescimento de fungos e leveduras após a abertura do silo. Depois de cheio, o silo precisa ser bem vedado com uma cobertura de plástico para evitar a penetração de oxigênio do ar. Em condições de anaerobiose e pH ácido, a maioria dos fungos fica impedida de crescer, mas se o processo de preparação for mal conduzido quando podem ocorrer defeitos na vedação ou na compactação e, se durante o seu uso, o material permanecer exposto ao ar por longos períodos, diversos fungos filamentosos poderão crescer e produzir micotoxinas. As micotoxinas detectadas em silagens são produzidas por fungos diferentes em dois momentos distintos, antes ou após o processo de ensilagem.
1. Antes da ensilagem (antes da colheita) - Micotoxinas podem ser produzidas em vegetais mesmo antes de serem colhidos para o preparo de silagens. Aspergillus flavus, e espécies do gênero Fusarium, por exemplo, dependendo da interação de certos fatores, podem produzir suas micotoxinas na planta ainda durante o cultivo. O mesmo acontece em relação aos fungos endofiticos, muitos dos quais podem produzir alcalóides tóxicos.
Quando a anaerobiose e a acidez são estabelecidas na silagem, esses fungos de campo têm o seu crescimento interrompido, mas suas micotoxinas, se presentes, permanecerão ativas. Dessa maneira, micotoxinas como a Zearalenona, os Tricotecenos e a Fumonisinas, devem ser consideradas como micotoxinas que seriam produzidas no período anterior à ensilagem ou quando a silagem não tiver sido adequadamente preparada e as espécies de Fusarium puderem continuar a crescer no material ensilado. Mesmo que este princípio possa ser aplicado às Aflatoxinas porque, como se sabe, o A. flavus também pode afetar o milho ainda no campo, apesar de poucas vezes isto acontecer, as Aflatoxinas não devem ser consideradas contaminantes importantes de silagens. Elas devem ser consideradas a principal das micotoxinas que são produzidas em grãos armazenados. 
2. Após a ensilagem (pós-colheita) - Com a modificação do meio ambiente no interior das silagens, outras espécies que são adaptadas às condições de microaerofilia e alta acidez, podem se desenvolver e produzir suas micotoxinas. Se durante o processo de ensilagem, a compactação da massa vegetal não tiver sido feita corretamente, resultando em bolsões de ar ou, se a vedação externa for deficiente permitindo a entrada de ar,  fungos trazidos do campo, como o Fusarium, poderão manter-se ativos e produzindo suas toxinas. 
Dentre os diversos fungos isolados de silagens, os mais importantes são: Penicillium roquefortii Aspergillus fumigatus, Aspergillus clavatus, Byssochlamys nívea, Monascus spp. Estas espécies são de importância na criação de animais por serem produtoras de micotoxinas que interferem com diversos aspéctos da saúde animal. Dentre as micotoxinas que podem ser produzidas por estes fungos destacam-se: 
Penicillium roquefortii: Patulina, Roquefortinas B, C, e D, Ácido micofenólico, Ácido penicílico, Toxina PR, Festuclavina, Agroclavie, Fumigaclavinas A e B, Marcofortinas A, B e C.
Aspergillus fumigatus:  Toxinas tremorgênicas (Verruculogeno, Fumitremorgeno e Penitren A), Gliotoxina, Fumagilina, Viriditoxina.
Aspergillus clavatus: Patulina, Citochalasina, Triptoquivalina.
Byssochlamys nívea: Patulina
Monascus spp: Monacolinas e Citrinina.